O papel da embalagem evoluiu. E nem todo mundo percebeu.
Primeiro, uma rápida volta ao passado para entender sua origem. Segundo o livro História da Embalagem no Brasil (Pedro Cavalcanti e Carmo Chagas), as embalagens acompanham a humanidade desde o dia em que se descobriu a necessidade de transportar e proteger mercadorias. Não é uma ideia original, afinal, a grande criadora do conceito é a natureza: casca do ovo, espiga do milho etc. Mas a embalagem manufaturada como a conhecemos passou das folhas de plantas, bexigas de animais e couro. Transformando-se em cerâmica e vidro, tecidos, madeira, papel, alumínio e, no plástico, nas diversas formas que conhecemos hoje. Desde o início, seu objetivo era claro: armazenar, transportar e proteger.
Com o aumento do comércio e o surgimento de produtos manufaturados, sentiu-se a necessidade de diferenciação e identificação. No final do século XIX, começam a surgir as marcas. Com isso, a embalagem ganha novas funcionalidades: diferenciar e informar.
Enfim, meu objetivo aqui não é detalhar a toda história da embalagem. É só reforçar um ponto de vista para dizer que, desde sua criação, a embalagem ainda é vista estrategicamente quase da mesma forma por quem a utiliza. Por favor, não confunda evolução estratégica com evolução tecnológica: saímos de folhas de plantas para polímeros complexos e funcionais. Passamos de desenhos manuais com pigmentos naturais a processos digitais de alta definição de imagem e cor. Não estamos falando disso.
Estamos falando da expectativa que uma marca coloca na embalagem — e de como ela é tratada dentro da estrutura empresarial. Na maioria dos casos, ela é vista apenas como custo.
E sim, eu sei que é custo (ao menos na visão contábil). Mas não estou propondo ignorar a lei contábil e tirá-la do CPV (Custo de Produto Vendido).
Estou propondo uma reflexão conceitual e estratégica.
Em empresas de bens de consumo, é comum destinar um percentual do faturamento para investimento em marketing — algo relevante e bem estruturado.
Esse orçamento financia projetos com agências, ativações, ranqueamento, tráfego pago, influenciadores etc.
Mas… onde entra a embalagem nessa conta?
Na maioria das vezes, apenas no projeto de design ou rebranding (que, claro, é importante — mas não é tudo).
Por que quase ninguém trata a embalagem como canal, como mídia, como plataforma?
A resposta é simples — e a culpa não é das marcas.
Por muito tempo, as limitações produtivas impediram essa evolução.
Processos robustos, inflexíveis e custosos faziam com que os convertedores só pudessem oferecer:
- volumes mínimos elevados
- pouca flexibilidade de impressão
- prazos longos de atendimento
E, sejamos justos: a culpa também não era dos convertedores — era uma limitação prática e real.
Ou seja: a visão estratégica da embalagem não evoluiu porque não havia solução produtiva para isso.
Felizmente, nos últimos anos, isso deixou de ser verdade.
Já temos tecnologia disponível — e o grande objetivo agora é estimular os brand owners a enxergarem a embalagem como canal.
E aqui vai uma informação poderosa:

Pesquisas recentes da WARC (World Advertising Research Center) mostram que a embalagem é o segundo canal de mídia mais eficaz — perdendo apenas para vídeos.
Contraditoriamente, no ranking dos canais mais usados pelas marcas, os três principais são:
- Vídeos online
- Televisão
- Mídias sociais
A embalagem nem aparece na lista.
E ainda assim, é a única mídia que você não pode ignorar, nem pular, nem excluir.
Já ouviu falar da FreeWater?
A FreeWater distribui água de graça — e paga tudo com anúncios impressos na própria embalagem.
Simples, mas genial: o produto (água) é secundário. O verdadeiro ativo é a embalagem como mídia.
O modelo funciona assim:
- Marcas compram espaço publicitário na embalagem.
- Esse valor cobre custo do produto, logística, doação social e distribuição.
- Resultado: o consumidor recebe água gratuita, o anunciante ganha mídia altamente segmentada e física, e parte da renda ainda vai para ONGs que constroem poços d’água em países em desenvolvimento.
Impacto:
- 10× mais impressões que campanhas de mala direta;
- ROI de 29% para os anunciantes;
- Mais de 100 milhões de impressões orgânicas.
Nosso objetivo é tornar a água mais barata que o ar — e financiar isso com publicidade”, diz o fundador, Josh Cliffords.
O case comprova: quando a embalagem é tratada como plataforma, não custo, ela pode escalar como mídia, gerar valor e até sustentar um modelo de negócios inteiro.
E nosso case recorrente da campanha HerShe da Hershey’s que viralizou mundialmente?
As funções históricas da embalagem nunca deixarão de ser essenciais.
Mas novas funções estratégicas fazem dela um ativo de alto valor.
E, na minha visão, o SUPERPODER mais recente da embalagem é:
🎯 Atenção do cliente.
O ativo mais raro, disputado e caro no mundo dos excessos de estímulo.
Quem sabe um dia não veremos embalagens e influenciadores atuando juntos?
Painéis de LED em aeroportos e pouches como mídias complementares?
Embalagem como parte do omnichannel?
Parece ousado? Talvez.
Mas temos dados, fatos e cases reais.
Só o tempo — e a criatividade — vão revelar a embalagem do futuro.
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